O Zebra, coletivo cuiabano composto majoritariamente por realizadores negros, ganhou projeção, em 2018, ao lançar o curta-metragem “Como Ser Racista em 10 Passos”, que venceu os prêmios de Melhor Ficção na III Mostra de Cinema Negro e na 17ª Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina (MAUAL). E agora, em 2019, a equipe colaborativa pretende ampliar o campo de atuação e começar a gravar clipes musicais para diversos artistas locais.
O projeto, intitulado “Zebra Convida”, já tem sua primeira edição marcada para o dia 17 de fevereiro, às 16h, no aconchegante Ateliê Gorayeb. Os videoclipes serão gravados durante apresentações de média duração para um público reduzido, os chamados ‘pocket shows’. As primeiras convidadas são as talentosas Laura Paschoalick e Mariana Borealis, portanto será uma noite de muito samba, baião, mpb e outras brasilidades. A ideia é que seja algo intimista, para aproximadamente 100 pessoas, e o ingresso custará R$ 15.
O evento será transmitido, ao vivo, através de lives pelo Facebook e Instagram. E então, posteriormente, após um trabalho de edição, os clipes de cada música serão disponibilizados nos canais do coletivo. E além de gravar as apresentações, eles também farão entrevistas com os artistas e o público para explorar esta interação.
De acordo com Isabela Ferreira, 24, diretora e roteirista de ‘Como Ser Racista em 10 Passos’ e uma das idealizadoras do ‘Zebra Convida’, a proposta é realizar o evento mensalmente, sempre com pocket shows de dois artistas. As próximas atrações, do mês de março, provavelmente serão Pacha Ana e Luísa Lamar ao lado do irmão Paulo Monarco. “A gente quer fortalecer a cena cultural de Cuiabá”, sintetiza Isabela.
E embora o projeto tenha sido batizado de ‘Zebra Convida’, ela espera que este “convite” parta, na realidade, dos próprios músicos. “A gente quer que os artistas venham falar com a gente”. Afinal de contas, foi justamente assim que a ideia germinou. “Alguns vieram procurar a gente para fazer clipes. E aí a gente pensou: ‘por que não fazer um evento disso, né?’”.
COLETIVO ZEBRA
Tudo surgiu na Universidade Federal de Mato Grosso há aproximadamente um ano. São seis integrantes: Isabela Ferreira (Produção), Karen Rosa (Produção), Anna Maria (Produção) Carlos Gontijo (Direção de Arte), Gabriel Oliveira (Direção de Arte) e Neto Costa (Produção Executiva). Todos eles cursavam (quatro ainda cursam) Comunicação Social na instituição. Na ocasião, eles se reuniram para a produção de ‘Como Ser Racista em 10 Passos’. O resultado foi tão satisfatório que fortaleceu a união da equipe que viria a se tornar o Coletivo.
E a inspiração para o nome partiu justamente da grata surpresa proporcionada pelo curta. “Ninguém estava esperando muita coisa e ficou um filme incrível. A gente quis brincar com essa coisa de dar zebra, de ser o azarão”, relembra Isabela.
A princípio, o Coletivo era composto somente por negros, mas hoje possui um integrante branco. “Outras pessoas queriam somar ao projeto e aí a gente acabou se abrindo”. A cineasta explica que eles fazem cinema negro, mas que isso “não se resume a pessoas negras fazendo cinema, mas sim às temáticas abordadas”.
‘Como Ser Racista em 10 Passos’, por exemplo, apresenta esquetes com situações racistas naturalizadas na sociedade. O objetivo é mostrar como essas situações contribuem para o perpetuamento do racismo no Brasil.
O impressionante é que o premiado curta de 25 minutos, produzido em apenas dois meses, não contou com nenhum apoio ou patrocínio e custou apenas R$ 200, valor irrisório no meio cinematográfico. “Eu não sei como que a gente fez isso. Foi tudo na camaradagem mesmo. A gente deixou bem claro que não tinha dinheiro, mas que tinha uma ideia massa. E a galera topou”, relata Isabela.
Mesmo com o orçamento limitadíssimo, a equipe produziu um filme com elogiável qualidade técnica, com destaque para fotografia e a trilha sonora, e esta inclusive contou com a colaboração de nomes de prestígio nacional, como Karol Conka e Preta Rara, além de proeminentes artistas locais, como Pacha Ana. Todas participaram voluntariamente após serem apresentadas ao projeto. “A gente não tinha muita grana, mas tinha muita vontade de fazer”, reforça Isabela.
E embora o foco atual seja gravar clipes musicais, eles não descartam a produção de novos filmes em breve, inclusive já têm roteiros prontos. Além disso, agora, após o reconhecimento do último curta, ela acredita que talvez se deparem com um pouco menos de dificuldades para conseguirem apoio e espaço para futuras produções.
No entanto, apesar da projeção otimista, ela não se ilude. Isso porque, enquanto mulher e negra, é ciente de como é “difícil ser respeitada, principalmente trabalhando com audiovisual, porque sempre duvidam da sua capacidade”. Além disso, acrescenta que a vivência lhe ensinou que sempre tentam lhe impor algumas restrições quando se trata de ocupar certos espaços, mas nada que a intimide. “Eu penso em ocupar esses espaços e ter a mesma voz que os outros”, frisa.
Isabela demonstra a segurança e altivez de quem compreende sua responsabilidade enquanto ser no espaço-tempo em que está inserida. “Vejo muito mais mulheres ocupando cargos que antes só homens ocupavam. Diretoras, roteiristas, principalmente mulheres negras, então acho que essa realidade está mudando. Minimamente, mas está mudando. Já é alguma coisa. Hoje eu tenho referências que antes eu não tinha”, conclui.
SERVIÇO
Atração: Pockets Shows para gravação de videoclipes com Laura Paschoalick e Mariana Borealis
Local: Ateliê Gorayeb (Rua das Palmeiras, 316, Baú)
Quando: 17 de fevereiro às 16h
Entrada: R$ 15 – Cada um pode levar sua própria bebida
Página do Evento: https://www.facebook.com/events/2372916806273653/
Página do Coletivo: https://www.facebook.com/ZebraColetivo/
