Canoa de Jatobá: Homenagens

Anna Maria Ribeiro – Escritora Pesquisadora com pós-doutoramento em Ciências Sociais PUC/SP

Tudo por causa de uma canoa de Jatobá!

Jatobás, “árvores com frutos duros”, em língua Tupi-Guarani, moram do México e Antilhas até a América do Sul. No Brasil, escolheu as regiões Norte e Sudeste – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Vegetal considerado sagrado para inúmeros povos indígenas, podem crescer até quarenta metros de altura e dois metros de diâmetro. Flores brancas explodem na estiagem para, quatro meses depois, oferecerem seus frutos que se transformarão em saborosa bebida. Para o povo indígena Bororo, é a bebida preferida das almas; sua madeira fornece o esteio central de suas casas, simbolizando a ligação do mundo subterrâneo e subaquático ao terrestre e celestial.

O Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais caracteriza o Jatobá, Hymenaea courbaril,como um vegetal raro, com um exemplar por hectare. Por estar distribuído em uma vasta região e ser encontrado em áreas protegidas foi classificado como “pouco preocupante” pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.

Jatobá é gentepara o povo indígena Yawalapiti, habitante da Terra Indígena Parque do Xingu, Mato Grosso! Acreditam que Kwamuty, criador do homem, é filho do Morcego e neto do Jatobá. Homens da etnia Yawalapiti são responsáveis em transformar o vegetal sagrado em canoas. Técnica que requer esmero. A primeira tarefa é pintar seus corpos de urucum para entrar na mata e encontrar uma espécie apropriada.

Árvores menores, de outras espécies, são cortadas para a construção de um jirau que precisa estar acoplado à árvore escolhida para a subida dos índios que, com seus facões, riscam o caule onde serão feitos os cortes para descolar a casca do tronco. Várias estacas são colocadas entre a casca e o tronco. Por fim, um barulho oco anuncia a soltura da casca, por inteiro. A canoa começa a ganhar forma pela ação do fogo. Por ser uma árvore sagrada, tudo precisa ser aproveitado, caso contrário, os espíritos Mamaés podem ficar zangados e trazer infortúnios à aldeia: de seu tronco, bancos e objetos rituais são construídos.

Ingressei no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso pelas mãos de João Carlos e Paulo Pitaluga. João indicou-me a Paulo, que desejava comprar dos indígenas uma canoa de casca de Jatobá para decorar a Casa Barão de Melgaço. Cheguei a entrar em contato com indígenas da etnia Bakairi para assuntar a possibilidade. Informada de que a época era inapropriada à retirada da casca, o assunto foi deixado de lado. 

Pela raridade, estirpe e grandeza do Jatobá, pela similitude de suas características, por ter sido responsável por nosso encontro, escolho a canoa de Jatobá para homenagear dois grandes amigos: Paulo Pitaluga e João Carlos.

 

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