A ‘Sessão Realizadores de MT’ apresenta, a partir das 19h30 desta terça-feira (16.04), cinco curtas-metragens produzidos pelo Coletivo Audiovisual Negro Quariterê. Um dos filmes, intitulado “Minha madrugada (Rodolfo Luiz, 2019, 10’)”, fará sua estreia na ocasião. A entrada custa simbólicos R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia) e a classificação indicativa é de 14 anos.
Além do lançamento de ‘Minha Madrugada’, também serão exibidos “Sob os pés (Juliana Segóvia e Neriely Dantas, 2015, 20’)”; “Abecedário: encontros e desencontros nas letras mato-grossenses (Jonathan César, 2017, 30’)”; “Pandorga (Maurício Pinto, 2017, 17’)”; e “Como ser racista em dez passos (Isabela Ferreira, 2018, 13’)”.
“Minha madrugada”
A estreia da noite é também de um diretor estreante. Rodolfo, 23, apresentou o documentário como Trabalho de Conclusão de Curso em Radialismo pela UFMT. Trata-se de em recorte sobre suas impressões e vivências no que diz respeito às madrugadas cuiabanas, focando principalmente na iluminação (ou a precariedade dela) nos bairros periféricos da capital, o que evidencia uma sensação de abandono e melancolia.
“Sob os pés”
Roteiro, direção, fotografia, pesquisa, montagem, finalização e outros detalhes para a realização de um filme. Tudo feito pela dupla Juliana Segóvia e Neriely Dantas, ambas com 33 anos. Também pudera, afinal produziram o documentário com apenas R$ 1,5 mil.
O filme aborda a trajetória do skate na capital mato-grossense. Desenvolvida sob um calor de 40 graus, a trama percorre a sinuosidade das ruas cuiabanas e o relevo irregular da cidade, que tornam-se obstáculos instigantes para os skatistas locais. Aparentemente encerrados em recônditos discretos aos olhos alheios, os skatistas permeiam a cidade de Cuiabá revelando-se um grupo conciso, organizado, solidário e singular.
Abecedário: encontros e desencontros nas letras mato-grossenses (Jonathan César, 2017, 30’)
O documentário de estreia de Jonathan César conta algumas memórias do centenário da Academia Mato-grossense de Letras (AML) narradas por 11 imortais contemporâneos.
Além de viajar por memórias, a narrativa também conta a história das letras em Mato Grosso para além da instituição. Os encontros e os desencontros que ressignificaram o alfabeto português no centro da América do Sul e formaram outra coisa, outro abecedário.
Pandorga (Maurício Pinto, 2017, 17’)
Pandorga é uma palavra usada na baixada cuiabana para designar papagaio, pipa. Esta relação semântica é explorada na ficção ambientada em belas estradas. Trechos da rodovia que liga Cuiabá a Manso (BR – MT 351) e trechos da Rodovia que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães (MT 251) foram escolhidos como paisagem cênica.
Trata-se de um Road Movie (Em bom português: Filme de Estrada). O filme foi um dos vencedores do edital Procine 01/2015 e 95% da equipe é mato-grossense, com exceção do casal de atores protagonistas. Ella Nascimento (da escola de atores de Salvador, onde passaram Lázaro Ramos e Wagner Moura) e o global Álamo Facó (A Grande Família; Tropa de Elite; O Palhaço). O elenco ainda é composto por Tatiana Horevicht e Romeu Benedicto.
O roteiro, assinado pelo diretor estreante Maurício Pinto, apresenta uma boa dose de poesia e filosofia, explorando diálogos que propõem reflexões ao espectador.
O casal Túlio (Álamo) e Thaís (Ella) viajam num Corcel vermelho 77 rumo à Chapada dos Guimarães. Eles têm em mãos um envelope cujo conteúdo diz muito sobre o futuro deles, e estão decididos a abri-lo somente quando chegarem ao Mirante. No entanto, nem sempre o mais importante é o destino, mas sim o caminho. E neste trajeto eles revivem memórias e sentimentos. E estas reflexões e acontecimentos podem reconstruir a história de ambos.
Como ser racista em dez passos (Isabela Ferreira, 2018, 13’)
Este também é o trabalho de estreia de Isabela enquanto cineasta, mas ela já começou com tudo. O curta venceu os prêmios de Melhor Ficção na III Mostra de Cinema Negro e na 17ª Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina (MAUAL).
A ficção – que trabalha com questões bem reais – apresenta esquetes com situações racistas naturalizadas na sociedade. O objetivo é mostrar como essas situações contribuem para o perpetuamento do racismo no Brasil.
O impressionante é que o premiado filme, produzido em apenas dois meses, não contou com nenhum apoio ou patrocínio e custou apenas R$ 200, valor irrisório no meio cinematográfico.
Mesmo com o orçamento limitadíssimo, a equipe produziu um filme com elogiável qualidade técnica, com destaque para fotografia e a trilha sonora, e esta inclusive contou com a colaboração de nomes de prestígio nacional, como Karol Conka e Preta Rara, além de proeminentes artistas locais, como Pacha Ana. Todas participaram voluntariamente após serem apresentadas ao projeto.
Coletivo Audiovisual Negro Quariterê
O Coletivo é formado por produtores de audiovisual de Mato Grosso e tem como foco reunir profissionais da área e demais pessoas interessadas em discutir temáticas relacionadas às questões raciais e suas intersecções com outros aspectos que podem agravar preconceitos, sejam eles de gênero, idade ou classe social.
Nesse sentido, como fruto do aprofundamento dessas discussões, o coletivo desenvolve ações ideológicas e concretas voltadas a promover a equidade de gênero e raça por meio de materiais audiovisuais. Para tanto, participa de editais e busca sua inserção nos espaços oficiais de circulação a fim de garantir que atuem profissionais negros em todas as etapas da produção.