Cuiabá MT, 30/10/2024

Cultura Popular: especialistas destacam importância de projeto para a perpetuação de grupos

Celeiro de grupos tradicionais da cultura popular mato-grossense nas manifestações de siriri e boi-à-serra, Santo Antônio de Leverger vê acender uma chama de esperança para a perpetuação das tradições com o projeto Festival Cultura Popular – idealizado pela Associação Mato-grossense de Inclusão Sociocultural (Amiscim). Com oficinas e série documental com três episódios, iniciativa buscou especialistas e mestres nos segmentos para auxiliar os grupos a retomar atividades e transmitir seus conhecimentos.

Filho e neto de cururueiro, mestre Thomas Flaviano desenvolve trabalhos e pesquisas na área da cultura popular. Especialista em cururu, ele atua levando musicalização por meio da viola de cocho, mocho, ganzá, bem como cururu, siriri, rasqueado e boi-à-serra. “Com toda essa experiência, o mestre não poderia ficar de fora do projeto”, afirma o consultor em Planejamento e Gestão Cultural José Paulo Traven.

Segundo Thomas, trata-se de um relevante serviço para Santo Antônio, que está proporcionando recomeçar e reavivar essas manifestações. “É enriquecedor poder ajudar a recompor esses grupos. A proposta foi de trabalhar a musicalização e o vocal e, após as oficinas, estamos levando alguns músicos profissionais para juntar com os integrantes dos grupos para fazer uma capacitação”.

Um destaque, segundo o mestre, foi o trabalho desenvolvido com os grupos de boi-à-serra. “Trabalhamos com os integrantes da percussão e inserimos o ritmo do siriri, que conduzia essas manifestações. Uma retomada às origens e foi muito bem aceito, reunindo a bateria com os instrumentos do siriri, dando essa identidade musical, ou seja tocar o ritmo do siriri no boi-à-serra”.

O consultor artístico com foco em cultura popular, Avinner Augusto, que tem construído sua história com base em trabalhos que promovem a valorização dos saberes e da identidade local, também participa do projeto com oficinas e apoio aos grupos de siriri Vitória Régia, Arco-Iris, Siriri das Moreninhas e Sirir ide Rua, e de boi-à-serra: Boi Estrela, Boi Pantaneiro e Boi Lendário.

“Está sendo uma experiência incrível, proporcionou me aproximar dessas manifestações – já que Santo Antônio é um celeiro de artistas, onde há encontro de mestres e jovens integrantes, e todos apaixonados por essas manifestações das quais fazem parte. Depois, por reavivar o siriri no município, visto que na região estavam presentes o maior número de grupos de sisiri de Mato Grosso, inclusive maior do que Cuiabá. Infelizmente, com o passar dos anos essa realidade mudou. Então, esse projeto dá esperanças, mesmo em um momento complexo de pandemia, para que esses grupos se fortalecessem e estivessem retomando suas atividades”.

Já para os grupos de boi-à-serra, Avinner explica que o projeto enaltece essa figura lendária, que é representativa da cultura popular brasileira – em todas as outras regiões têm essa expressão muito forte. “Em Santo Antônio Leverger não é diferente, existe um potencial artístico incrível nos grupos de boi-à-serra, tanto nas questões da musicalidade, coreográfica, quanto nos movimentos, e, principalmente, no encantamento do público para com essa manifestação cultural”.

Segundo ele, estão sendo produzidos figurinos, inclusive com a participação dos integrantes. “Fizemos questão de envolve-los, para que, caso o projeto tenha continuidade em um segundo momento, a gente consiga construir algo mais elaborado pensando no boi-à-serra em um festival de referência no estado”.

Para o consultor e mestre da cultura popular Vital Siqueira, que dá vida à personagem Comadre Pitú, a iniciativa é uma oportunidade de celebrar e revigorar as manifestações. “Preservar a cultura ajuda a manter as tradições para que nossa gente se reconheça nas manifestações criadas e mantidas de forma espontânea. Esse trabalho foi importante porque os grupos tomaram essa consciência e espero que, a partir desse trabalho, todos os outros grupos sejam estimulados a retomar suas atividades incentivando novas participações”.

O festival

Oprojeto teve início com oficinas de capacitação em música, direção artística, coreografia, conceito e criação de figurinos, criação de identidade visual e assessoria, além da criação e execução de portfólio básico, que inclui a construção de páginas em redes sociais, o que dará ainda mais visibilidade aos grupos.

A segunda fase do projeto é a realização da série documental que registra a história e a memória das manifestações populares, por meio de entrevistas e vivencias. Com direção de Leonardo Sant´Ana, os episódios serão disponibilizados em plataformas digitais gratuitas, em breve.

O festival é uma realização da Associação Mato-grossense de Inclusão Sociocultural (Amiscim), do Governo de Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer, e Assembleia Legislativa, por meio de emenda parlamentar indicada pelo deputado Alan Kardec.

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