Hélio Flanders prepara livro inspirado em vivências em MT e na Bolívia

Hélio Flanders é cantor, compositor e instrumentista da banda Vanguart

O cantor e compositor Hélio Flanders, após conseguir reconhecimento nacional na música – tanto como vocalista do grupo Vanguart quanto em seus projetos em carreira solo -, está prestes a se lançar na literatura. O cuiabano prepara seu primeiro livro. Trata-se de um romance entremeado por alguns poemas.

“É a história de um cara que chega numa cidade nova tentando desvendar um mundo novo. Um próprio mundo novo”, sintetiza Flanders. Neste contexto, o protagonista se relaciona com outros personagens enquanto vivencia situações inspiradas na própria vida do autor.

“Fala um pouco da minha experiência, das minhas viagens pela América Latina quando eu era adolescente, mais precisamente a Bolívia, misturado com meu universo de Cuiabá, Várzea Grande, dos meus 17, 18 anos de idade…”, revela ao Pensar Cultura.

No entanto, ressalta o escritor/cantor, “não é autobiográfico. É muito mais ficcional do que isso. Acho que eu acabo pegando só um retrato do que foi minha vida e discorro a respeito disso no sonho da ficção”.

E embora já esteja escrevendo, ainda não definiu o título. “Ainda estou tateando. Estou quase lá”. E em relação à data de lançamento da obra, também prefere não estabelecer prazos. “Talvez saia esse ano ainda, talvez ano que vem… Logo mais veremos”.

RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E MÚSICA

Em abril, Flanders esteve em Cuiabá em duas oportunidades. Primeiro para um show do Vanguart no Cine Teatro. E, alguns dias depois, no Sesc Arsenal, fez uma apresentação solo durante o lançamento do selo editorial independente ‘Arcada’. Na ocasião, admitiu considerar que “a letra é o sentido maior dentro da própria música” e também mencionou que sempre escreveu prosa.

Além disso, ainda falou sobre suas diversas influências literárias, desde o primeiro contato – ainda na infância – com Augusto dos Anjos (1884-1914), até a adolescência, quando se debruçou nas obras de alguns dos chamados “poetas malditos”, como os franceses Charles Baudelaire (1821-1867) e Arthur Rimbaud (1854-1891). Neste mesmo período da vida, também destaca “O Casamento do Céu e do Inferno (1793)”, livro do britânico William Blake (1757-1827), como uma das obras mais marcantes de sua juventude.

‘O Casamento do Céu e do Inferno’, de William Blake, foi uma das obras mais marcantes da juventude de Flanders

E fez questão de lembrar de Bob Dylan – o qual afirma ter mais lido do que propriamente ouvido – para ressaltar a importância do Nobel de Literatura concedido ao músico norte-americano, o que, segundo Flanders, simboliza uma espécie de rompimento definitivo das fronteiras destas duas linguagens artísticas (música e literatura).

O QUE FLANDERS LÊ ATUALMENTE?

Este show que fez no Sesc Arsenal, intitulado “Hélio Flanders & As Folhas de Relva”, é uma referência à obra homônima do Walt Whitman (1819-1892), considerado o pai do verso livre, inclusive a apresentação intercalava trechos de poemas de Whitman com as próprias canções de Flanderes.

“Estou traduzindo Whitman, que é algo que eu faço há muitos anos, então naturalmente estou sempre lendo Whitman. E isso inclui lê-lo em vários idiomas para poder esmiuçar o sentimento da tradução”. Uma destas traduções é do grande escritor argentino Jorge Luis Borges, que, complementa Flanders, trata-se de uma “tradução muito poética e livre”. E também tem lido a tradução completa da obra de Whitman para o português, assinada pelo gaúcho Gentil Saraiva Júnior.

E além da escrita do próprio romance e da constante leitura e tradução da obra de Whitman, Flanders conta que tem o hábito de ler muitos livros simultaneamente. “Estou lendo um italiano que já faz parte da minha pesquisa do idioma, que é o Dino Buzzati (1906-1972), que é ‘O Deserto dos Tártaros (1940)’”.  O romance de Buzzati aborda alegoricamente a necessidade humana de dar sentido à vida e o desejo de imortalidade através da glória.

‘O Deserto dos Tártaros (1940)’, do italiano Dino Buzzati, é uma das obras que Flanders está lendo

“Moby Dick (1851)”, do americano Herman Melville (1819-1891), é outro livro que o tem encantado. “É uma leitura que eu nunca tinha feito, e que está me tomando bastante tempo, já estou há meses nela, mas é fantástica”. Para endossar o relato de Flanders, basta lembras que as edições brasileiras costumar possuir entre 650 e 670 páginas. E “Moby Dick”, na época de seu lançamento, revolucionou a literatura por possuir grandes trechos de não-ficção sobre os mais variados assuntos, desde métodos de caça às baleias até detalhes sobre embarcações e armazenamento de produtos.

E uma mulher também figura entre as atuais leituras do músico. “Os poemas da Elizabeth Bishop (1911-1979) que ela escreveu quando estava no Brasil, no livro ‘Questões de Viagem (1965)’”, comenta. Bishop é considerada uma das principais poetas do século XX e venceu o Prêmio Pulitzer de Poesia em 1956. Ela viveu no Brasil de 1951 até o início da década de 70 e manteve uma relação com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares entre 1951 e 1965.

E um outro livro de poesia, do conterrâneo Júlio Custódio, que inclusive é um dos idealizadores do Selo Arcada, também tem acompanhado Flanders. Segundo o cantor/compositor/escritor, “Você Derrubou coisas pelo caminho (2019)” é “indefectível! Um dos livros mais originais de poesia que eu li nos últimos anos”.

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