Joanna faz 40 anos de carreira ainda em busca da chama do começo

Projetada na revolução feminina que arejou a MPB em 1979, cantora carioca está há oito anos sem lançar disco.

Divulgação

Joanna atravessou 2019 com show, De volta ao começo, em que pretendeu reacender a chama inicial de carreira que ganhou impulsou em 1979 no embalo da revolução feminina que arejou a MPB há 40 anos.

Sim, mesmo que tenha posto os pés na profissão anos antes, como cantora da noite carioca, Joanna completou 40 anos de carreira fonográfica em 2019 sem comemoração à altura da efeméride.

A cantora deve um disco ao público que ainda a segue. O último álbum foi um projeto religioso dedicado à obra do padre e compositor mineiro José Fernandes de Oliveira – conhecido como Padre Zezinho – e editado em 2011, há longos oito anos.

Em 2014, a artista anunciou a idealização de disco com conexões entre Brasil e Portugal e com repertório autoral que iria apresentar músicas inéditas compostas por Joanna em parceria com Álvaro Socci e Tiago Torres da Silva, como a canção Não vai ter bis e o fado Eterno amor.

Três anos depois, em julho de 2017, Joanna começou a gravar álbum em estúdio, com produção musical de Jaime Alem, mas esse disco, se foi concluído, permanece inédito.

Nesses oito anos sem álbum, o único efetivo registro fonográfico inédito de Joanna foi a regravação da balada Tudo menos esse adeus (Altay Veloso, Tutuca Borba e Cacá Morais, 1993), propagada na trilha sonora da novela Haja coração (TV Globo, 2016) e incluída em um dos discos com a seleção musical da trama.

Joanna precisa voltar realmente ao começo. Ainda é tempo de fazer disco sem preocupações mercadológicas que remeta ao álbum de estreia da cantora, Nascente (1979), ou mesmo aos álbuns lançados entre 1980 e 1985, gravados com progressiva interferência artística da gravadora RCA, mas ainda interessantes, sobretudo o Chama de 1981 e o Brilho e paixão de 1983, disco pautado por brasilidade então rarefeita na discografia dessa cantora essencialmente romântica.

A questão é que a artista parece ter perdido a chama inicial quando, a partir do álbum Joanna de 1986, a cantora passou a dar voz prioritariamente às baladas da produção industrial dos compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas, entre canções de outros hitmakers atuantes no mercado fonográfico da época.

O retorno comercial foi grande e imediato. Contudo, a médio e a longo prazo, Joanna foi perdendo a relevância e a emoção real dos primeiros discos.

Verdade seja dita: Joanna não foi a única cantora a embarcar no trem do sucesso com destino artístico incerto. Simone também saiu do tom inicial a partir de 1984 com discos padronizados de som pasteurizado.

Ambas pagaram alto preço por isso. Mas Simone voltou a fazer eventuais bons discos, caso do Baiana da gema (2004), gravado com músicas inéditas de Ivan Lins. Com veia genuinamente mais popular, Fafá de Belém, aclamada pelo recente e interiorizado álbum Humana (2019), também recuperou o prestígio.

Joanna pode e deve ir pelo menos caminho das colegas, reacendendo de fato a chama do belo começo de carreira fonográfica que contabiliza 40 anos neste já agonizante 2019.


Por Mauro Ferreira | G1

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