Maria Luiza Jobim se revela ainda sem identidade sonora no primeiro álbum solo

Filha de Tom Jobim abriga boas referências pessoais em 'Casa branca', disco produzido por Kassin, mas pouco avança em relação ao synth pop que fazia no duo Opala.

Foto: Guilherme Nabhan / Divulgação

Ao se lançar como cantora e compositora, Maria Luiza Jobim carrega o ônus e ganha o bônus de ser filha de ninguém menos do que Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994).

O ônus reside na cobrança para que produza uma música minimamente relevante que honre o sobrenome, um dos mais nobres da dinastia da música brasileira. O bônus é dado na forma de espaços que se abrem naturalmente na mídia para a artista sem que Maria Luiza necessariamente faça jus ao interesse.

Casa branca – primeiro álbum solo da filha caçula de Tom – apresenta Maria Luiza ainda sem forte identidade sonora no universo da música eletrônica de cepa mais pop.

Ter confiado a produção a Kassin talvez tenha sido o erro maior da artista na confecção do disco. Reconhecível nos efeitos eletrônicos que adornam Fotossíntese, música moldada para pista, a produção de Kassin pouco contribui para fazer Maria Luiza avançar significativamente em relação ao synth pop que a artista apresentou no Opala, duo de música eletrônica que Maria Luiza formava com Lucas de Paiva.

A única real diferença reside no fato de as sete músicas inéditas do disco terem sido compostas e cantadas em português enquanto o Opala transitava em inglês, língua falada por Maria Luiza na elegante abordagem de Meditation (Norman Gimbel, 1963), versão em inglês da canção Meditação (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1960), um dos standards planetários do cancioneiro paterno.

Copiloto do Opala, Lucas de Paiva é parceiro de Maria Luiza Jobim na criação no repertório do disco. Lucas Vasconcellos e Cris Caffarelli também assinam músicas com a artista no álbum Casa branca, embora, em 22º andar, Maria Luiza mostre que pode até prescindir de parceiros.


Maria Luiza Jobim apresenta elegante abordagem de ‘Meditation’, única faixa em inglês de disco cantado em português — Foto: Guilherme Nabhan / Divulgação

Se a voz pequena está bem ajustada ao tamanho das canções, a insinuante compositora e os parceiros tampouco fazem feio em Sonhos, balada forrada com sons sintetizados.

Há um ou outro tema realmente insosso, caso de Incêndios, mas o problema do disco não está no repertório. O alicerce mais frágil de Casa branca é a sonoridade que, além de quase reeditar a estética synth do Opala, faz até com que Maria Luiza Jobim pareça estar clonando a atmosfera de Mahmundi em Corpo e calor.

Não por acaso, o som de Maria Luiza Jobim soa mais sedutor no disco quando a artista se volta para o círculo familiar e se abriga sob referências pessoais.

Além de Meditation, há a já conhecida música Casa branca – flash nostálgico da infância vivida pela artista com o pai em casa no bucólico bairro carioca do Jardim Botânico – e há Antônia, canção sensorial composta por Maria Luiza para a filha recém-nascida.

Enfim, há canções e há momentos neste primeiro álbum solo da artista de 32 anos. Casa branca deixa entrever futuro para Maria Luiza Jobim no mundo da música.

Basta a artista reforçar a própria identidade sonora e encontrar a própria turma nessa caminhada pós-Opala – e Kassin decididamente parece não ser dessa turma… – para evitar soar como mais uma na multidão pop.

Por: Mauro Ferreira | G1


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