Cuiabá MT, 04/12/2024

Pixé: Revista vanguardista reúne prosa, poesia, artes visuais e música de MT

Após o lançamento de uma edição piloto, em março, a revista literária (e não só) Pixé publicou sua primeira edição oficial em abril. Idealizada pelo advogado e escritor Eduardo Mahon, a publicação virtual mensal reúne textos em prosa ou poesia de 21 autores (11 mulheres e 10 homens) mato-grossenses. O projeto gráfico e diagramação é de Roseli Mendes Carnaíba.

Ao longo de suas 51 páginas, literatura e artes plásticas se confluem, uma vez que obras da pintora e objetista Regina Pena, 66, emolduram e são emolduradas pelos contos, poemas e crônicas. A ideia é que a cada edição um artista diferente seja homenageado.

E a música também tem seu curso que deságua, ao mesmo tempo que é engolido, pelo caudaloso conteúdo artístico da revista. O grupo ‘Mesa Pra 6’ propõe uma instigante experimentação vocal e sonora com a canção ‘Traz Pra Cá Pra Raspá’.

Este estilo inventivo e híbrido garante à revista uma estética vanguardista, o que comunga com as intenções de seu idealizador quando pensou na proposta de um periódico literário contemporâneo.

O escritor e advogado Eduardo Mahon é o idealizar do periódico virtual

“Não vamos fazer uma revista literária tradicional. Texto, texto, texto… Não! Vamos fazer uma revista literária profundamente artística, com apelo massificadamente imagético, simbólico”, explica Mahon.

A ideia é que um novo artista

LITERATURA

Porém, embora diferentes linguagens comuniquem e se comuniquem entre si, é inevitável concluir que o principal canal é a literatura. Nesta edição, em comparação com a versão piloto, o número de autores quase dobrou, saltando de 13 para 21 colaboradores.

Sumário com os nomes dos autores e autoras que colaboraram nesta edição

Há também que se ressaltar a diversidade. Além da divisão entre gêneros, é digno de destaque a variedade de idades, a pluralidade do conteúdo e a riqueza literária de uma publicação mensal restrita a autores mato-grossenses (nascidos aqui ou residentes).

Para se ter uma ideia do peso deste time basta lembrar que sete ocupam cadeiras na Academia Mato-grossense de Letras (AML): Marília Beatriz de Figueiredo Leite, Lucinda Persona, Cristina Campos, Marta Cocco, Eduardo Mahon, Lorenzo Falcão e Aclyse de Mattos.

E além dos imortais, jovens com uma vida inteira pela frente provam que a literatura contemporânea mato-grossense está mais viva e rejuvenescida do que nunca. Nomes como Stéfanie Sande, Matheus Guménin Barreto, Lívia Bertges, Lucas Rodrigues, Rodrigo Meloni e Helene Werneck exemplificam esta ideia.

Como bem observou Lorenzo Falcão, em seu também imortal Tyrannus Melancholicus, são 66 anos de diferença entre a autora mais velha e a mais jovem. Portanto, independentemente do prestígio ou das glórias alcançadas por alguns dos colaboradores, Mahon roga no editorial: “Deus livre os escritores da canonização”, afinal “o que a literatura mais precisa não são de pódios de chegada, mas de linhas de partida”, complementa.

LITERATURA NO ESPAÇO VIRTUAL

Mahon explica que a ideia para criação da Pixé partiu da percepção no que diz respeito à tradição mato-grossense de periódicos, inclusive citou uma série deles, como ‘Violeta’ (segunda revista literária feminina do Brasil); ‘Revista Vôte!’; ‘A Fagulha’; ‘Estação Leitura’; ‘Dazibao’… “A gente consegue provar facilmente o nascimento de gerações literárias com base em periódicos de Mato Grosso”, argumenta.

Recorte de uma das páginas da Pixé

Neste sentido, em sintonia com o espírito do tempo, decidiu criar um periódico virtual. Mahon teoriza que, atualmente, devido à facilidade ofertada pelas editoras, autores estão fazendo projetos solos pouco coletivizados. E é justamente neste ponto que a pós-modernidade, segundo ele, atua ironicamente.

“Ao passo que editoras possibilitaram projetos solos de escritores que faziam coletivo, a tecnologia está nos obrigando a fazer do coletivo um hábito”, reflete. Para corroborar sua tese, cita projetos literários mato-grossenses que também caminham nesta direção, como o próprio Tyrannus Melancholicus e o Ruído Manifesto.

Não por acaso, no editorial desta edição, ele reforça que a “poesia não está oferecida a granel nas prateleiras das livrarias, mas no varejo das redes sociais”. E ainda cita a potencialização de seu alcance ao se “libertar” dos livros.

“Vende-se poesia nos postes de rua, nos muros em branco e nas canecas de café. Vende-se poesia nos imãs de geladeira, nas bocas de profeta de rua e até nas cuecas samba-canção. Enfim, o poema desencarnou dos livros”, conclui.

No entanto, embora o poema tenha se desencarnado, o autor também reconhece o valor do corpo. Prova disso é que pretende, após a revista completar seus 12 números iniciais, reunir todas as edições numa única publicação física.

“Isso vai fazer que o meio digital migre para o analógico, porque tem muita gente que gosta de lidar com registro, também é uma facilitação”, pondera.

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