Após o lançamento de uma edição piloto, em março, a revista literária (e não só) Pixé publicou sua primeira edição oficial em abril. Idealizada pelo advogado e escritor Eduardo Mahon, a publicação virtual mensal reúne textos em prosa ou poesia de 21 autores (11 mulheres e 10 homens) mato-grossenses. O projeto gráfico e diagramação é de Roseli Mendes Carnaíba.
Ao longo de suas 51 páginas, literatura e artes plásticas se confluem, uma vez que obras da pintora e objetista Regina Pena, 66, emolduram e são emolduradas pelos contos, poemas e crônicas. A ideia é que a cada edição um artista diferente seja homenageado.
E a música também tem seu curso que deságua, ao mesmo tempo que é engolido, pelo caudaloso conteúdo artístico da revista. O grupo ‘Mesa Pra 6’ propõe uma instigante experimentação vocal e sonora com a canção ‘Traz Pra Cá Pra Raspá’.
Este estilo inventivo e híbrido garante à revista uma estética vanguardista, o que comunga com as intenções de seu idealizador quando pensou na proposta de um periódico literário contemporâneo.
“Não vamos fazer uma revista literária tradicional. Texto, texto, texto… Não! Vamos fazer uma revista literária profundamente artística, com apelo massificadamente imagético, simbólico”, explica Mahon.
A ideia é que um novo artista
LITERATURA
Porém, embora diferentes linguagens comuniquem e se comuniquem entre si, é inevitável concluir que o principal canal é a literatura. Nesta edição, em comparação com a versão piloto, o número de autores quase dobrou, saltando de 13 para 21 colaboradores.
Há também que se ressaltar a diversidade. Além da divisão entre gêneros, é digno de destaque a variedade de idades, a pluralidade do conteúdo e a riqueza literária de uma publicação mensal restrita a autores mato-grossenses (nascidos aqui ou residentes).
Para se ter uma ideia do peso deste time basta lembrar que sete ocupam cadeiras na Academia Mato-grossense de Letras (AML): Marília Beatriz de Figueiredo Leite, Lucinda Persona, Cristina Campos, Marta Cocco, Eduardo Mahon, Lorenzo Falcão e Aclyse de Mattos.
E além dos imortais, jovens com uma vida inteira pela frente provam que a literatura contemporânea mato-grossense está mais viva e rejuvenescida do que nunca. Nomes como Stéfanie Sande, Matheus Guménin Barreto, Lívia Bertges, Lucas Rodrigues, Rodrigo Meloni e Helene Werneck exemplificam esta ideia.
Como bem observou Lorenzo Falcão, em seu também imortal Tyrannus Melancholicus, são 66 anos de diferença entre a autora mais velha e a mais jovem. Portanto, independentemente do prestígio ou das glórias alcançadas por alguns dos colaboradores, Mahon roga no editorial: “Deus livre os escritores da canonização”, afinal “o que a literatura mais precisa não são de pódios de chegada, mas de linhas de partida”, complementa.
LITERATURA NO ESPAÇO VIRTUAL
Mahon explica que a ideia para criação da Pixé partiu da percepção no que diz respeito à tradição mato-grossense de periódicos, inclusive citou uma série deles, como ‘Violeta’ (segunda revista literária feminina do Brasil); ‘Revista Vôte!’; ‘A Fagulha’; ‘Estação Leitura’; ‘Dazibao’… “A gente consegue provar facilmente o nascimento de gerações literárias com base em periódicos de Mato Grosso”, argumenta.
Neste sentido, em sintonia com o espírito do tempo, decidiu criar um periódico virtual. Mahon teoriza que, atualmente, devido à facilidade ofertada pelas editoras, autores estão fazendo projetos solos pouco coletivizados. E é justamente neste ponto que a pós-modernidade, segundo ele, atua ironicamente.
“Ao passo que editoras possibilitaram projetos solos de escritores que faziam coletivo, a tecnologia está nos obrigando a fazer do coletivo um hábito”, reflete. Para corroborar sua tese, cita projetos literários mato-grossenses que também caminham nesta direção, como o próprio Tyrannus Melancholicus e o Ruído Manifesto.
Não por acaso, no editorial desta edição, ele reforça que a “poesia não está oferecida a granel nas prateleiras das livrarias, mas no varejo das redes sociais”. E ainda cita a potencialização de seu alcance ao se “libertar” dos livros.
“Vende-se poesia nos postes de rua, nos muros em branco e nas canecas de café. Vende-se poesia nos imãs de geladeira, nas bocas de profeta de rua e até nas cuecas samba-canção. Enfim, o poema desencarnou dos livros”, conclui.
No entanto, embora o poema tenha se desencarnado, o autor também reconhece o valor do corpo. Prova disso é que pretende, após a revista completar seus 12 números iniciais, reunir todas as edições numa única publicação física.
“Isso vai fazer que o meio digital migre para o analógico, porque tem muita gente que gosta de lidar com registro, também é uma facilitação”, pondera.