Em Mato Grosso, quando as estradas não eram asfaltadas e aparelho de televisão era privilégio de poucas famílias, em meados das décadas de 50 e 60, quando o coronelismo era prática corriqueira durante eleições e as mulheres tinham pouquíssima autonomia de suas próprias vidas, sim, exatamente neste não tão distante período, quando o machismo não tinha nenhum pudor em mostrar sua face mais violenta e separatista, Sarita Baracat de Arruda ousou contrariar as estatísticas e fazer carreira política. Assim, diante de todas as adversidades, conseguiu ser a primeira prefeita de Mato Grosso. O mandado em Várzea Grande (1967-70) lhe credenciou, também, a ser eleita a primeira deputada estadual (1978-82) após a divisão que deu origem a Mato Grosso do Sul.
E se hoje o machismo na política ainda é evidente pela quantidade de mulheres (bem menor, proporcionalmente, do que a de homens) ocupando cargos eletivos, imagine naqueles tempos. Pois é, basta uma rápida pesquisa em jornais do período para se deparar com editoriais determinando regras de conduta para mulheres. O mesmo se via nas incipientes colunas femininas, repletas de dicas de como limpar a casa, agradar o marido, receber visitas ou se comportar publicamente. Vale lembrar que, neste contexto, nem sequer haviam discussões sobre igualdade de gêneros, portanto as mulheres que ousassem transpor os limites impostos socialmente, como Sarita Baracat ousou, se submetiam ao implacável julgamento machista da época.
Entretanto, apesar destes pesares, ela é uma mulher dona de si e de um espírito libertário, o que lhe possibilitou enfrentar de cabeça erguida as censuras que lhe imputavam. Afinal, ciente de seu potencial, sabia que não estava aquém da capacidade de homem algum. E, além da vida pública, estendia esta convicção ao âmbito privado, tanto é que usava calça jeans e fumava cigarros, hábitos, até então, quase exclusivamente restrito a homens. E se não bastasse o pioneirismo na política e nos costumes, Sarita ainda se fez presente em outro meio marcado pela predominância masculina: o futebol. Ela é torcedora fanática do Clube Esportivo Operário Várzea-Grandense, instituição cuja criação e glórias muito se devem à família Baracat. Atualmente, o Operário é um dos símbolos da população da ‘cidade industrial’, que, por sinal, possui este título graças à política desenvolvimentista de Sarita, centrada na abertura de mercado e incentivo às indústrias.
Biografia
Sua família é de origem Síria. Entretanto foi em Buenos Aires, capital argentina, que seus pais, Miguel Baracat e Warda Zain, se conheceram e casaram. Só depois se mudaram para Várzea Grande, onde criaram os oito filhos, dentre eles, Sarita.
Seu primeiro emprego, aos 20 anos, foi como tesoureira da prefeitura. Aos 22, iniciou no magistério, ministrando aulas de sociologia, história e geografia. Só então, em 1957, ingressou de vez na política. Concorreu ao cargo de vereadora e foi a mais votada naquela eleição. Em 1966, após desistência do candidato oficial do Arena na campanha para prefeitura, teve, por ser a presidente do partido, de assumir a empreitada, que, por sinal, foi muito bem sucedida, se tornando assim a primeira mulher eleita prefeita no estado. Alguns anos depois, em 1978, foi eleita deputada estadual pelo MDB, consolidando sua trajetória política em Mato Grosso.
Neste meio tempo, em 1960, se casou com Emanuel Benedito de Arruda. Eles tiveram dois filhos; o jornalista Fernando Baracat e o ex-deputado Nico Baracat, falecido, em 2012, após um trágico acidente de carro.
Atualmente, aos 86 anos, vive no casarão onde foi criada pelos pais, um espaço arborizado e sempre frequentado por parentes e amigos. Em 2017, completou 50 anos de diplomação e posse como primeira prefeita do município.