Símbolos religiosos: o que são e o que significam


Anita Sayuri Aguena

Anita Sayuri Aguena

Professora de Filosofia e Sociologia

Símbolos religiosos são sinais que representam uma cultura ou tradição religiosa.

Eles podem ser coisas diferentes, como desenhos, gestos, rituais, objetos, ou até mesmo certos tipos de arte. Esses símbolos são usados de forma especial por cada grupo religioso para mostrar suas crenças, práticas e histórias.

É importante entender que um elemento só se torna um símbolo religioso quando a comunidade que o usa o vê e o entende como algo que representa o sagrado ou ajuda a se conectar com o divino. Alguns exemplos são o alguidar, que é um recipiente de barro usado para oferendas; a menorá, um candelabro com sete braços; ou mesmo gestos, como o sinal da cruz e a prática de orações. Esses símbolos ajudam a identificar e entender a essência de cada religião.

símbolos religiosos
Símbolos religiosos e as respectivas religiões a que eles aparecem associados

Os símbolos religiosos têm duas faces. De um lado, eles são coisas visíveis e concretas, como objetos ou gestos. De outro, representam algo invisível e muitas vezes misterioso, que está além do que podemos ver. Esses símbolos servem para passar ideias profundas, valores que os membros de uma religião compartilham, e expressam a conexão que têm com o divino. Ou seja, sempre trazem uma mensagem.

Como são representações do sagrado, esses símbolos são considerados poderosos. Algumas pessoas os usam como uma forma de proteção. Por exemplo, é comum encontrar católicos que carregam o crucifixo, vendo-o como um amuleto. Outro exemplo é o patuá, um pequeno amuleto da cultura africana. Ele é uma bolsinha que pode ter orações, plantas, sementes e outros elementos, sendo carregada para proteger quem a possui ou o lugar onde está colocada.

Patuás de Couro, ligado a Xangô
Patuás de Couro, ligado a Xangô. Foto de Obara Design e Acessórios

Outra característica importante dos símbolos religiosos é que eles criam um sentimento de união e identidade para o grupo. Através desses símbolos, as pessoas que compartilham uma mesma fé se reconhecem como parte de uma comunidade, criando um laço de afeto e pertencimento. Ao mesmo tempo, quem está fora dessa fé consegue identificar os membros por meio desses símbolos.

Vale lembrar que cada religião usa muitos tipos de símbolos, que vão desde objetos a gestos e rituais. Esses símbolos ajudam a manter viva a tradição e as crenças da religião, passando de geração em geração e reforçando a continuidade daquela fé ao longo do tempo.

Abaixo, há alguns exemplos de símbolos religiosos:

Cruz

Diferentes tipos de cruzes
Diferentes tipos de cruzes

A cruz é um símbolo muito antigo, encontrado em várias culturas e com diferentes formas e significados. Embora hoje seja geralmente associada ao cristianismo, ela carrega mais de um sentido.

Para os cristãos, a cruz representa o objeto da crucificação de Jesus, lembrando o sofrimento que ele passou. Ao mesmo tempo, ela simboliza perseverança e vitória sobre a morte, já que os cristãos acreditam que Jesus ressuscitou. Assim, a cruz vai além de um símbolo de sacrifício e passa a ser um sinal de esperança e superação.

Crucifixo

Crucifixo da Igreja de Essen
Crucifixo da Igreja de Essen. Foto de Andreas Praefcke/Wikimedia Commons

O termo “crucifixus” vem do latim e significa “fixado” ou “pregado na cruz.” No cristianismo, especialmente na tradição católica, o crucifixo é um símbolo que mostra Jesus Cristo pregado na cruz. Para muitos cristãos, ele representa mais do que apenas o sofrimento de Jesus; é um lembrete do sacrifício que ele fez para salvar a humanidade dos pecados.

Nos crucifixos, a sigla “INRI” é comum e vem do latim, significando “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.” Esse título foi colocado na cruz durante a crucificação de Jesus, e simboliza a visão de Jesus como um líder espiritual.

Hilal

hilal_lua crescente sobre uma mesquita
Lua Crescente sobre uma Mesquita

Hilal é uma palavra árabe que significa “lua crescente.” Esse símbolo, que se tornou popular durante o império Otomano, inclui uma estrela dentro do arco da lua. Alguns estudiosos acreditam que essa estrela representa a Estrela da Manhã, também chamada de Estrela D’alva.

Embora o Islã não faça uso de imagens para culto, a lua crescente ficou muito associada à religião. Por isso, ela aparece em muitas bandeiras de países de maioria muçulmana. A lua crescente, com suas fases em constante mudança, simboliza também o ciclo de vida, sendo vista como um sinal de renovação e ressurreição na tradição islâmica.

Estrela de Davi

Estrela de Davi e Rolo de Torah
Rolo da Torah sobre pano com estrela de David

O “Escudo de Davi,” ou Magen David, é um símbolo formado por dois triângulos equiláteros sobrepostos, criando uma estrela de seis pontas. Embora tenha sido usado como símbolo mágico em várias culturas, ele acabou se tornando um símbolo associado ao Judaísmo.

Assim como o Islã, o Judaísmo não cultua imagens, então, no passado, acredita-se que os judeus antigos usavam esse símbolo mais como decoração. Com o tempo, influências de outras culturas, como a bizantina, ajudaram a transformar a estrela de Davi em um talismã de proteção e poder, também conhecido como o “selo de Salomão.”

A partir do século XIV, a comunidade judaica de Praga adotou oficialmente a estrela como símbolo do Judaísmo. Existem várias interpretações sobre o que ela significa para os judeus. Alguns a veem como um símbolo secreto, enquanto outros acreditam que representa a conexão entre o espiritual e o material, simbolizando pares opostos como bem e mal, céu e terra, e masculino e feminino.

Independentemente das interpretações, a estrela de Davi tornou-se um emblema do vínculo com Deus e uma fonte de esperança para a comunidade judaica.

Om

Símbolo do Om
Símbolo do Om

O Om é um símbolo sagrado na tradição hindu, principalmente pelo seu som, mais do que pela sua forma visual. É uma palavra do sânscrito que aparece em vários mantras e práticas religiosas, inclusive no budismo. O Om está ligado à ideia de unidade e representa o “som primordial,” o som da criação do universo. Por isso, algumas pessoas o associam à ideia de “vida,” embora ele não tenha uma tradução exata.

Uma das interpretações do Om divide o som em três partes: “A, U, M.” Essa divisão reflete muitas das tríades presentes na tradição hindu. No hinduísmo, há várias coisas que se apresentam em três: os três Vedas (textos sagrados), os três deuses principais (Brahma, Vishnu e Shiva), os três períodos do dia (manhã, tarde e noite), os três estados de ser (vigília, sono profundo e sonho) e os três mundos (paraíso, terra e atmosfera).

Assim, o Om é visto como a base de toda a existência, representando a harmonia e a conexão de todos esses aspectos.

Yin Yang

Símbolo Yin Yang
Símbolo de Yin Yang em rocha de areia na China

O Yin Yang é um símbolo que deriva da sabedoria chinesa, sendo associado ao Taoismo – doutrina filosófica criada por Lao-Tse e que acabou sendo uma forma distinta de religião.

Esse símbolo é caracterizado por um círculo dividido em duas partes iguais, uma preta e outra branca, em formato quase de gota. Isso evoca a existência de um dualismo natural: tudo que existe tem um aspecto negativo e um aspecto positivo, assim como tem um luminoso e um sombrio; um feminino e um masculino, etc.

Contudo, em ambas as partes da imagem do Yin Yang há um círculo menor em seu interior, que contém a cor de seu par oposto. Isso remete a ideia de que todos esses opostos existentes estabelecem uma relação de equilíbrio e interdependência.

Ofá

exemplo de ofa, simbolo religioso do candomble e da umbanda
Exemplo de Ofá. Foto de Biologo32/Wikimeida Commons

O Ofá é um símbolo que representa a união de um arco e uma flecha, encontrado nas religiões afro-brasileiras como o Candomblé e a Umbanda. Esse termo vem do iorubá e está diretamente ligado a Oxóssi, o orixá das matas e conhecido como o grande caçador.

Para além de caçar para alimentação e sobrevivência, o símbolo do Ofá é uma metáfora para o foco e o conhecimento necessários para enfrentar a vida. Quem possui esse símbolo é visto como alguém que domina a cultura e sabe como usar suas habilidades e ferramentas.

O Ofá pode ser feito de metal branco ou bronze, materiais que remetem a Oxóssi. Às vezes, ele também é representado em metal dourado, em referência a Logunedé, um orixá associado a Oxóssi no Brasil e conhecido como “pequeno guerreiro” ou “filho de Oxóssi.”

Pentagrama

Pentáculo com velas
Pentagrama, ou pentáculo, com velas

Também conhecido como “pentáculo”, o pentagrama é uma estrela de cinco pontas que aparece em diversas culturas, mas que ficou consagrada como símbolo da religião Wicca.

Para alguns, o pentagrama simboliza o microcosmo, ou seja, o ser humano como sendo um pequeno mundo. A ponta superior remeteria à cabeça e as demais pontas da estrela, aos membros. As cinco pontas podem também fazer referência aos cinco sentidos humanos (tato, paladar, olfato, visão e audição).

Além dessa interpretação, há quem considere o símbolo uma representação da conexão entre os quatro elementos naturais (fogo, ar, terra e água) e o elemento do éter ou do espírito. Em certa medida, seria uma referência da ligação do mundo espiritual ao material.

Por ser associado à magia e à proteção, o pentagrama é utilizado como emblema em portas e amuletos, a fim de afastar o mal.

Torii

Torii, portão tradicional japonês
Torii, portão tradicional japonês

O Torii é o nome dado no Japão aos portais que ficam na entrada dos templos. Eles são formados por duas traves horizontais sobre duas verticais, geralmente feitas de madeira e pintadas em várias cores.

Esses portais estão ligados ao xintoísmo, religião tradicional japonesa, e estão associados ao mito de Amaterasu, a deusa do sol, que saiu de uma caverna para trazer luz ao mundo. Assim, o Torii simboliza a passagem entre dois mundos: o mundo físico e impuro e o mundo espiritual e sagrado. Ele marca a transição para um espaço sagrado e simboliza a purificação antes de entrar em contato com o divino.

Roda Dharma

Roda do Dharma
Escultura budista da roda do Dharma no Tibete

A roda do Dharma, também chamada de “Dharmachakra” (roda da Lei) ou “roda do ensino”, é um círculo composto de oito raios e está ligado ao pensamento Budista.

Ele representa o movimento da lei que rege o destino humano e cada um dos seus três giros representa um momento do ensinamento de Buda.

Os oito raios, também entendidos como oito pétalas de uma lótus, referem-se ao Nobre Caminho Óctuplo. São ações necessárias para quem busca a libertação do sofrimento.

Os oito aspectos a serem seguidos para aperfeiçoamento são:

  • Compreensão correta;
  • Pensamento ou intenção correta;
  • Fala correta;
  • Ação correta;
  • Meio de vida correto;
  • Esforço correto;
  • Atenção correta;
  • Concentração correta.

Grafismo indígena

menino tecendo cesto com grafismo indígena
“Menino tecendo o cesto pëmït –põnty (2008)” (apud: VELTHEM; LINKE, 2010, p. 31)

O grafismo indígena consiste em símbolos, muitas vezes geométricos, criados pelos povos originários para expressar seu conhecimento ancestral e suas crenças. Cada povo indígena tem sua própria história, mitos e sabedoria, o que resulta numa enorme variedade de formas e significados.

Um exemplo é o grafismo dos povos Wayana e Aparai, chamado “Milikut – Menuru.” Esses símbolos aparecem em cestos, objetos do dia a dia, itens de cerimônias e até mesmo no corpo das pessoas. A origem desse grafismo remonta a uma lenda sobre uma lagarta sobrenatural que separava os territórios dos dois grupos.

Esses desenhos têm um duplo propósito: dar um toque único aos objetos que decoram e contar a história dos elementos centrais da cultura, como aspectos da natureza e seres sobrenaturais. Dessa forma, o grafismo preserva e comunica a identidade e o legado dos povos indígenas.

Exercícios sobre símbolos religiosos

Questão 1

O que são símbolos religiosos?

a) Chamamos de símbolo religioso a prática ritualista, usada nas tradições pagãs. Por isso, outro nome para símbolo religioso é “magia”;

b) São exclusivamente desenhos gráficos que servem para reconhecermos uma religião;

c) Símbolos religiosos se refere à doutrina que uma religião criou, ou seja, suas ideias religiosas;

d) São sinais que podem ser expressos por diferentes elementos de uma cultura religiosa e que comunicam um conhecimento sagrado.

Gabarito explicado

Resposta: d)

Símbolos religiosos são sinais manifestos de um conhecimento profundo e sagrado. Eles podem ser expressos por diferentes elementos que fazem parte de uma cultura religiosa.

Entre os elementos que podem ser considerados símbolos sagrados, podemos apontar: desenhos, gestos, ritos, objetos, falas, etc. Assim, eles não se restringem aos desenhos que indicam popularmente a sua religião.

Cada religião possui inúmeros elementos simbólicos e eles servem para comunicar tanto um conhecimento quanto o vínculo com o divino.

Questão 2

O símbolo abaixo representa qual prática religiosa?

pessoa com terço nas mãos

a) Representa a prática de oração do Judaísmo;

b) Ilustra a prática de meditação do Budismo;

c) Refere-se ao ato de rezar presente no Catolicismo;

d) Representa o ritual de sacudimento da Umbanda.

Gabarito explicado

Resposta: c)

A imagem traz uma pessoa segurando um terço, um objeto utilizado no catolicismo e que serve para conduzir as orações dedicadas à Virgem Maria.

Um terço é um cordão composto de 50 contas pequenas mais um crucifixo. Ele representa um terço de um rosário, que possui ao todo 150 contas. Nele, rezam-se orações, como: “o Pai Nosso”, “Salve Rainha”, “Ave-Maria” e o “Credo”.

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Para praticar mais: Atividades sobre símbolos religiosos (para imprimir)

Leia também: Religião: o que é, tipos e as principais crenças no Brasil

Referências Bibliográficas

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Anita Sayuri Aguena

Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com
Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora
na rede privada de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.



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