Exercícios sobre os Anos de Chumbo no Brasil (com respostas explicadas)


Lucas Pereira

Lucas Pereira

Professor de História

Faça os exercícios sobre Anos de Chumbo e teste seus conhecimentos sobre o tema. Confira as respostas e tire as suas dúvidas com as explicações.

Questão 1

A expressão “Anos de Chumbo” refere-se ao período de maior violência institucional da Ditadura Militar Brasileira, iniciado após a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Sobre o AI-5, é correto afirmar que:

a) Estabeleceu o bipartidarismo no país, sendo a ARENA o partido ligado à Ditadura, e o MDB, à oposição.

b) Determinou o fechamento do Congresso Nacional e suspendeu o habeas corpus para crimes políticos.

c) Elaborado durante o governo Médici, a medida endurecia a censura e permitiu a cassação de mandatos políticos.

d) Ao acrescentar a previsão de tortura na Constituição, a medida buscava reforçar a repressão contra os “subversivos”, isto é, opositores do governo.

Gabarito explicado

a) Incorreta. O bipartidarismo foi instituído após o Ato Institucional nº 2 (AI-2) em 1965, não pelo AI-5.

b) Correta. O AI-5 permitiu o fechamento do Congresso e suspendeu o habeas corpus em casos de crimes políticos, marcando o endurecimento do regime.

c) Incorreta. Embora o AI-5 tenha permitido a cassação de mandatos e censura, ele foi decretado durante o governo de Costa e Silva, em 1968, não no governo Médici.

d) Incorreta. O AI-5 não previa formalmente a tortura na Constituição, embora a repressão violenta contra opositores tenha se intensificado no período.

Questão 2

Ao final da década de 1968, o Brasil vivia o auge da Ditadura Militar. Nesse contexto, ocorre a formação de grupos da luta armada, que buscavam resistir ao regime. Entre esses grupos, destacam-se:

a) A Aliança Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

b) A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN)

c) A Aliança Liberal e a Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares)

d) A Guerrilha do Araguaia e a Operação Condor.

Gabarito explicado

a) Correta. A ALN e o MR-8 foram dois dos principais grupos que atuaram na luta armada contra o regime militar.

b) Incorreta. A Frente Sandinista de Libertação Nacional foi um movimento guerrilheiro da Nicarágua, não no Brasil.

c) Incorreta. A Aliança Liberal foi um movimento político da década de 1930, não ligado à luta armada dos anos de chumbo.

d) Incorreta. A Guerrilha do Araguaia foi uma resistência armada, mas a Operação Condor foi uma rede de colaboração entre ditaduras sul-americanas, não um grupo de resistência.

Questão 3

A Luta Armada é um dos episódios mais lembrados na história da Ditadura Militar, gerando debates e opiniões apaixonadas até os dias atuais. Sobre os grupos envolvidos nessas ações, avalie as afirmações abaixo:

I. A Luta Armada contou com a participação de políticos, estudantes, trabalhadores e mesmo militares, a exemplo de Carlos Lamarca.

II. Entre suas ações, os grupos armados realizavam sequestros de diplomatas para negociar sua soltura pela liberdade de prisioneiros políticos.

III. A reação dos militares à Luta Armada ocorreu dentro dos limites constitucionais, com amplo direito à defesa dos acusados por subversão.

Gabarito explicado

I. Correta. A resistência armada teve a participação de diferentes grupos sociais, incluindo militares dissidentes, como Carlos Lamarca.

II. Correta. Houve sequestros de diplomatas, como o caso do embaixador dos EUA Charles Elbrick, para pressionar o governo pela libertação de presos políticos.

III. Incorreta. A reação militar foi marcada por violações aos direitos humanos, como torturas, execuções sumárias e julgamentos sem garantias constitucionais.

Questão 4

“A prática da tortura instalou-se nos quartéis ainda no início do governo Castello Branco, e se espalhou como um vírus graças ao silêncio conivente dos participantes do núcleo do poder — civis e militares. Ao se converter em política de Estado, entre 1964 e 1978, a tortura elevou o torturador à condição de intocável e transbordou para a sociedade. Para a tortura funcionar, é preciso que existam juízes que reconheçam como legais e verossímeis processos absurdos, confissões renegadas, laudos periciais mentirosos. Também é preciso encontrar, em hospitais, gente disposta a fraudar autópsias e autos de corpo de delito (…). É preciso, ainda, descobrir empresários prontos a fornecer dotações extraorçamentárias para que a máquina de repressão política funcione com maior eficácia.”

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Maria Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. pp. 460-461.

Segundo o texto, a tortura tornou-se uma prática de estado durante a Ditadura por:

a) Contar com um apoio explícito ou velado de ampla parcela daqueles que estavam em posições de poder, sejam eles civis ou militares.

b) Resultado das medidas criadas durante o governo Castello Branco, interessado no combate aos grupos da luta armada.

c) Receber o apoio explícito de setores centrais da sociedade civil, como a Igreja Católica, o empresariado e sindicatos.

d) Insistência dos grupos mais conservadores dos militares, que encontraram grande oposição da classe médica, empresarial e de alto escalão do judiciário.

Gabarito explicado

a) Correta. O texto menciona que a tortura se tornou uma prática de Estado com o apoio explícito ou velado de civis e militares em posições de poder, incluindo juízes, médicos e empresários.

b) Incorreta. Embora o governo Castello Branco tenha iniciado práticas repressivas, o texto não afirma que o interesse inicial era combater grupos de luta armada, que surgiram depois.

c) Incorreta. O texto não menciona apoio explícito da Igreja Católica e sindicatos; ele foca em juízes, médicos e empresários que colaboravam com a repressão.

d) Incorreta. O excerto sugere que diversos setores da sociedade colaboraram com a tortura, sem grande oposição da classe médica ou empresarial, ao contrário do que é sugerido.

Questão 5

Para a historiografia tradicional, os “Anos de Chumbo” teriam se encerrado em 1974, ano de início do Governo Geisel. Aqui, os militares teriam iniciado um processo de abertura política, flexibilizando o regime. Sobre esse processo, assinale a alternativa correta.

a) Ao anunciar a abertura política, o governo Geisel determinou o encerramento imediato da tortura, das execuções sumárias e da censura, flexibilizando o regime.

b) A abertura política aconteceu por uma concessão dos militares, que conseguiram silenciar as vozes, setores e movimentos críticos à Ditadura internamente.

c) A flexibilização do regime foi criticada por países estrangeiros próximos aos militares, como os Estados Unidos, a França e a Inglaterra.

d) O processo de abertura política foi repleto de contradições, principalmente pela continuidade da repressão e da violência institucional por agentes da Ditadura.

Gabarito explicado

a) Incorreta. Embora o governo Geisel tenha iniciado o processo de abertura política, a tortura, as execuções sumárias e a censura não foram encerradas imediatamente.

b) Incorreta. É incorreto afirmar que os militares conseguiram silenciar totalmente as vozes críticas, pois continuaram a resistir de diversas formas.

c) Incorreta. A flexibilização do regime não foi criticada pelos Estados Unidos, França e Inglaterra, países que mantinham boas relações com o Brasil durante o regime militar.

d) Correta. O processo de abertura política foi marcado por contradições, já que, apesar do discurso de flexibilização, a repressão e a violência institucional contra opositores continuaram a ocorrer.

Questão 6

“Nessa época, respaldada pela política do governo Costa e Silva (…) a ofensiva militar e paramilitar transferiu os ataques (…) [para o] teatro e profissionais da área. Atores foram espancados, sequestrados, humilhados e teatros pichados, destruídos e bombardeados. (…) Em Porto Alegre, a encenação da peça [Roda Viva] enfrentou problema semelhante. No dia seguinte à estreia do espetáculo no Teatro Leopoldina, em 4 de outubro de 1968, as paredes do teatro amanheceram com pichações do tipo “fora os agitadores”, “comunistas” e “abaixo a pornografia” e, em 7 de outubro de 1968, o chefe do SCDP interditou a encenação do espetáculo (…), [acusando que] “os responsáveis pela peça vêm desrespeitando de há muito as determinações da censura federal através de marcações improvisadas e gestos indecentes provocando tumulto”.

GARCIA, Miliandre. “Ou vocês mudam ou acabam”: teatro e censura na ditadura militar. (1964-1985)/ Miliandre Garcia. – Rio de Janeiro: UFRJ/IFCS, 2008. p.138

Sobre as manifestações artísticas e culturais durante a Ditadura Militar, avalie as seguintes afirmações:

I. A censura e a violência física de militares e paramilitares consistiam em riscos reais à classe artística durante a Ditadura Militar.

II. O teatro foi o setor artístico mais conhecido pela crítica à Ditadura nos anos de 1960 e 1970, tendo em vista que a música e a literatura permaneceram indiferentes ao regime.

III. Embora buscasse imprimir um ar de institucionalidade e legitimidade, ações como a ocorrida em Porto Alegre em outubro de 1968 comprovam a brutalidade dos agentes da Ditadura.

É correto o afirmado em:

Gabarito explicado

I. Verdadeiro. A censura e a violência física realmente constituíam riscos para os artistas durante a Ditadura, como mostra o relato de agressões e repressão às peças teatrais.

II. Falso. A música e a literatura não permaneceram indiferentes ao regime.

III. Verdadeiro: A brutalidade dos agentes da Ditadura foi evidente em ações como a interdição e destruição de peças de teatro, mesmo com tentativas de justificar essas medidas de forma institucional.

Questão 7

A construção de estradas e a exploração de minérios não vieram sozinhas. Nos anos de chumbo, a chegada dos colonizadores apoiados pelas políticas do regime militar, era acompanhada por ocupação irregular das terras indígenas, criação de parques ambientais onde as terras indígenas eram reivindicadas, e ação de grileiros (fraudadores de negócios imobiliários), garimpeiros e seringueiros. Para os governos da ditadura, a realização das obras resolveria a questão indígena, integrando os povos à sociedade nacional. A política integracionista via na conversão do indígena em trabalhador um processo considerado “civilizatório” nos termos do regime.

MEMÓRIAS DA DITADURA. Violências contra os indígenas durante a ditadura. Disponível em: https://memoriasdaditadura.org.br/violencias-contra-os-indigenas-durante-a-ditadura/. Acesso em: 22 out. 2024.

Sobre a relação da Ditadura Militar e os povos indígenas, é correto afirmar que:

a) Os militares defendiam a integração dos indígenas à sociedade brasileira, embora isso significasse o abandono forçado de sua cultura, tradições, línguas e de suas terras.

b) Os programas econômicos dos militares para a região norte representaram uma oportunidade para os povos indígenas, interessados na participação da construção das rodovias e na grilagem das terras nacionais.

c) O processo civilizatório estabelecido pelos militares para os indígenas envolvia o princípio de preservação da autonomia e identidade dos povos indígenas.

d) As ações militares na região norte do país estavam fundadas em princípios ambientais, civilizatórios e pautados pelo respeito à diversidade.

Gabarito explicado

a) Correta. Os militares promoviam a integração forçada dos povos indígenas à sociedade, o que incluía a perda de suas terras e culturas tradicionais, em prol de projetos econômicos.

b) Incorreta. Os povos indígenas resistiram à exploração de suas terras, e as políticas econômicas e a grilagem causaram grande impacto negativo sobre suas vidas.

c) Incorreta. O processo civilizatório promovido pelo regime militar visava a assimilação forçada dos indígenas, sem preservar sua autonomia ou identidade.

d) Incorreta. As ações militares na região norte estavam focadas em objetivos econômicos, e o respeito à diversidade cultural e ambiental não foi uma prioridade, como mostram os conflitos com indígenas e o uso de suas terras.

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Para estudar mais: Anos de Chumbo no Brasil: entenda o que foi esse período

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Lucas Pereira

Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.



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