Ao se lançar como cantora e compositora, Maria Luiza Jobim carrega o ônus e ganha o bônus de ser filha de ninguém menos do que Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994).
O ônus reside na cobrança para que produza uma música minimamente relevante que honre o sobrenome, um dos mais nobres da dinastia da música brasileira. O bônus é dado na forma de espaços que se abrem naturalmente na mídia para a artista sem que Maria Luiza necessariamente faça jus ao interesse.
Casa branca – primeiro álbum solo da filha caçula de Tom – apresenta Maria Luiza ainda sem forte identidade sonora no universo da música eletrônica de cepa mais pop.
Ter confiado a produção a Kassin talvez tenha sido o erro maior da artista na confecção do disco. Reconhecível nos efeitos eletrônicos que adornam Fotossíntese, música moldada para pista, a produção de Kassin pouco contribui para fazer Maria Luiza avançar significativamente em relação ao synth pop que a artista apresentou no Opala, duo de música eletrônica que Maria Luiza formava com Lucas de Paiva.
A única real diferença reside no fato de as sete músicas inéditas do disco terem sido compostas e cantadas em português enquanto o Opala transitava em inglês, língua falada por Maria Luiza na elegante abordagem de Meditation (Norman Gimbel, 1963), versão em inglês da canção Meditação (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1960), um dos standards planetários do cancioneiro paterno.
Copiloto do Opala, Lucas de Paiva é parceiro de Maria Luiza Jobim na criação no repertório do disco. Lucas Vasconcellos e Cris Caffarelli também assinam músicas com a artista no álbum Casa branca, embora, em 22º andar, Maria Luiza mostre que pode até prescindir de parceiros.
Se a voz pequena está bem ajustada ao tamanho das canções, a insinuante compositora e os parceiros tampouco fazem feio em Sonhos, balada forrada com sons sintetizados.
Há um ou outro tema realmente insosso, caso de Incêndios, mas o problema do disco não está no repertório. O alicerce mais frágil de Casa branca é a sonoridade que, além de quase reeditar a estética synth do Opala, faz até com que Maria Luiza Jobim pareça estar clonando a atmosfera de Mahmundi em Corpo e calor.
Não por acaso, o som de Maria Luiza Jobim soa mais sedutor no disco quando a artista se volta para o círculo familiar e se abriga sob referências pessoais.
Além de Meditation, há a já conhecida música Casa branca – flash nostálgico da infância vivida pela artista com o pai em casa no bucólico bairro carioca do Jardim Botânico – e há Antônia, canção sensorial composta por Maria Luiza para a filha recém-nascida.
Enfim, há canções e há momentos neste primeiro álbum solo da artista de 32 anos. Casa branca deixa entrever futuro para Maria Luiza Jobim no mundo da música.
Basta a artista reforçar a própria identidade sonora e encontrar a própria turma nessa caminhada pós-Opala – e Kassin decididamente parece não ser dessa turma… – para evitar soar como mais uma na multidão pop.
Por: Mauro Ferreira | G1