Professores ajudam indígenas que aprendem a ler e a escrever em português a manterem a língua nativa Nambikwara

Indígenas têm dificuldades para escrever a língua porque o material didático utilizado nas escolas está disponível em português. Além disso, não há professores especializados.

Foto: Mônica Cruz/ Arquivo pessoal

Dois professores e doutores em linguística da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) desenvolvem um projeto para a preservação da língua nativa e produção de material didático adaptado à realidade do povo Nambikwara. O objetivo é a conservação da língua materna considerada pelos linguistas como família isolada.

O trabalho é desenvolvido em Comodoro e Conquista D’Oeste, a 677 km e 571 km de Cuiabá, respectivamente. Nessas regiões, vivem mais de 2 mil índios da etnia Nambikwara.

A idealizadora do projeto, Mônica Cruz, contou que a ideia surgiu da própria demanda dos indígenas.

Segundo a professora, eles têm dificuldades para passar o ‘idioma’ aos alunos das aldeias, pois o material didático utilizado nas escolas está disponível apenas em português e não há professores especializados.

“Na faculdade de licenciatura da Unemat temos dois acadêmicos Nambikwara. Eles contaram que a falta de material didático da língua materna tem prejudicado o desenvolvimento dos alunos nas aldeias”, disse.

Foto: Mônica Cruz/ Arquivo pessoal

Após a declaração dos alunos indígenas, Mônica e o professor Wellington Quintino, começaram a aplicar oficinas com o intuito de organizar a gramática da língua Nambikwara.

“Realizamos as oficinas separadas no Vale e no Cerrado, pois eles apresentam variações na língua. A demanda é grande, são cerca de 35 participantes divididos em 16 subgrupos”, ressaltou.

A principal dificuldade, segundo Mônica, é a falta de indígenas formados para lecionar nas escolas das aldeias.

“Os alunos dominam a fala, mas têm dificuldades na escrita, pois são ensinados por professores não indígenas. Não há índios formados e isso prejudica o desenvolvimento da língua”, explicou.

Foto: Mônica Cruz/ Arquivo pessoal

Em cada comunidade, os professores desenvolvem o trabalho por uma semana. Ao todo, quatro oficinas já foram realizadas nos subgrupos Wakalitesu, Sawentesu, Kithaulu, Halotesu, Negarotê, Mamaindê, Alantesu, Hahaintesu e Wasusu. Na semana passada, foi finalizada mais uma formação na região do Vale do Guaporé.

“É um projeto a longo prazo. Quem participa são os próprios índios e nós aplicamos os conceitos para organizá-los”, disse.

A língua Nambikwara

Os povos da etnia Nambikwara são bilíngues. No entanto, segundo especialistas, os alunos apresentam grande dificuldade para escrever a língua, devido à alfabetização ser desenvolvida primeiro em português, apesar de não ser usado com frequência nessas aldeias.

Mônica explicou que a língua Nambikwara é complexa e apresenta variações entre seus 16 subgrupos étnicos.

“É uma língua isolada e não possui parentesco com nenhuma língua do mundo. Por isso, é importante organizar a língua para ser passada aos outros”, ressaltou.

Por G1

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