Autor premiado pela Academia Carioca de Letras lança livro em Cuiabá

O carioca Zeh Gustavo, autor de ‘Eu Algum na Multidão de Motocicletas Verdes Agonizantes’, se mudou para Cuiabá e tem projetos musicais na capital de MT

Zeh Gustavo se mudou para Cuiabá no fim de 2018 - Foto - Mariana Rangel

O Sesc Arsenal recebe, às 17h deste sábado (08.06), o lançamento de ‘Eu Algum na Multidão de Motocicletas Verdes Agonizantes’, livro vencedor do Prêmio Lima Barreto de Contos, da Academia Carioca de Letras, em 2014. O autor, o multiartista Zeh Gustavo, também é músico e se mudou para Cuiabá em dezembro de 2018. Na capital mato-grossense, ele participa de dois projetos musicais: ‘Samba do Aconchego’ e ‘Triuaipi’.

O premiado livro é a quarta publicação literária de Zeh, que já lançou “Pedagogia do suprimido (2013)”, “A perspectiva do quase (2008)” e “Idade do Zero 2005)”. “Eu Algum na Multidão de Motocicletas Verdes Agonizantes (2018)” foi publicado pela editora Viés e reúne 21 contos abordando diversas temáticas, porém em todos há a presença de um narrador que se revela, em geral, o personagem principal.

O autor explica que esse ‘eu-narrativo’ “se dilui por toda a obra. Em alguns momentos parece que é o mesmo, mas na verdade não há essa ligação. São personagens diferentes, porém com as suas aproximações. […] É principalmente esse ‘eu’ que habita a cidade, que é um ‘eu’ em tensão com o meio em que vive”, pontua Zeh.

capa motocicletas final – marcas de corte

O QUE SERIA A REALIDADE?

Além deste narrador/ator, os contos têm em comum uma estrutura narrativa que coloca em xeque o conceito de realidade. “É um livro de ficção, mas o tempo todo há essa tensão do que é real, do que é real na ficção, do que é ficção na ficção e do que é ficção no real”, explica.
Neste contexto, o autor acrescenta que se existe um estatuto responsável por definir se algo é real ou não, necessariamente esse estatuto passa pelo discurso, afinal de contas, “na literatura, a realidade maior sempre é o texto”, argumenta.

Assim, consciente de como manejar esta ferramenta de alterar realidades, admite que algumas de suas construções textuais propõem justamente potencializar a dúvida sobre o que é real, afinal o “intento de provocar essa confusão é levantar a reflexão sobre o que é a própria realidade”, justifica.

TENSÃO COM A LINGUAGEM

Segundo ele, “a grande estratégia do livro é provocar essa confusão trabalhando com o humor e com a experimentação da linguagem”, por isso abusa de neologismos e outros recursos linguísticos e literários, o que define como “tensão com a linguagem”.

“Há um lirismo, um apego poético e ao mesmo tempo quase barroco ao idioma, sustentando um caso afetivo e popular de difícil tonalidade literária; algo como se esperássemos um confronto bélico entre o culto e o cotidiano […], mas o resultado é de ambos se cumprimentando e se complementando”, analisa o crítico José Fontenele.

AUTOFICÇÃO

Esta narrativa que questiona a realidade e este estilo literário que estabelece essa “tensão com a linguagem” dão ao livro de Zeh Gustavo um certo caráter, como ele próprio admite, de autoficção, uma vez que a literatura permite “esse conjunto de fios, de filiações diversas, nesse trânsito entre realidade e ficção, entre obra e autor. Então acho que é autoficção nesse sentido, não necessariamente de ser algo que se passou na minha vida”, pondera.

“O ponto em comum com a obra de Gustavo me parece ser a ideia de concerto e desconcerto da escrita e do conto em si. A justificava para isso se dá por conta da variedade de experiências que o autor de ‘Eu Algum na Multidão de Motocicletas Verdes Agonizantes’ faz com sua própria obra”, complementa o crítico José Fontenele.

MÚSICA

No que diz respeito às referências, Zeh Gustavo cita Lima Barreto, Campos de Carvalho, João Antônio Ferreira Filho, Antônio Fraga e Guimarães Rosa no campo da prosa. E na poesia destaca Manoel de Barros e Raul Bopp. Todavia faz questão de dizer que suas “referências literárias não são só da literatura”, afinal “ultrapassam as referências do livro escrito”.

Zeh também é músico e tem dois projetos em andamento em MT – Foto – Carol Couto

E inclusive cita o sambista Zé Keti como uma de suas grandes influências, e também relembra que um de seus contos é dedicado ao “Paulinho da Viola que habita em cada um de nós”, como se o músico “fosse uma entidade”. Essa ligação com a música fez de Zeh Gustavo mais do que um entusiasta, mas também um realizador nesta outra linguagem artística.

Atualmente, ele faz parte de grupos/projetos como Terreiro de Breque (RJ), Samba do Aconchego (MT) e Triuaipi (MT). E também já passou por Cordão do Prata Preta (RJ), Samba da Saúde (RJ) e Banda da Conceição (RJ). Em Cuiabá, o ‘Samba do Aconchego’ é apresentado todo primeiro sábado de cada mês no bar Aconchego. O repertório é composto por músicas tradicionais do gênero.

E o Triuaipi é um projeto em parceria com Ricardo Porto e Josué Carvalho. Neste trabalho, eles buscam musicalidades autênticas e se valem do conhecimento de samba de Zeh, bem como de outros ritmos pelos demais integrantes, para propor novos arranjos a músicas regionais e de outros países da América Latina, além acrescentar algumas autorais.

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